Nos últimos tempos ouvimos o Ex-Presidente da Républica Mário Soares, dizer que havia o risco de haver violência caso este governo continue no poder e a practicar as mesmas medidas com que nos tem vindo a presentear. Imediatamente foi acusado pelos partidos pertencentes ao governo de estar a instigar à violência, à rebelião e a ser possivelmente um crime.A declaração mais sonante foi mesmo a do "irrevogável" vice- primeiro ministro Paulo Portas, quando disse que "As declarações de um antigo Presidente da República [Mário Soares] são graves porque elas significam, mesmo que involuntariamente, a legitimação da violência e em democracia a violência nunca é a forma adequada de manifestar uma opinião". E, recentemente o Papa Francisco disse na sua exortação apostólica "Evangelii Gaudium":
"Mais cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que
as corridas armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais.
Servem apenas para tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança,
como se hoje não se soubesse que as armas e a repressão violenta, mais
do que dar solução, criam novos e piores conflitos. Alguns comprazem-se
simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países
pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução
numa "educação" que os tranquilize e transforme em seres domesticados e
inofensivos. Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos
veem crescer este cancro social que é a corrupção profundamente radicada
em muitos países - nos seus Governos, empresários e instituições - seja
qual for a ideologia política dos governantes."
Se
lermos isto pela mesma lente que os partidos do governo lêem, somos
forçados a dizer que tanto o Dr. Mário Soares como o Papa Francisco andam
os dois a apelar à violência. Mas a realidade é diferente. Qualquer um
dos dois, está simplesmente a avisar quem está no poder para o
inevitável e para se prepararem. Não porque discordem das políticas que
têm sido seguidas (o próprio Mário Soares aplicou muitas quando teve
responsabilidades), mas sim porque têm receio de não poderem controlar o
que se seguirá e que as pessoas já não oiçam mais o grande centrão
político ou no caso do Papa, que as pessoas não mais queiram ouvir que
devem sofrer na terra e resignar-se. E este é o grande receio que os leva a virem a público fazer estas declarações. O medo que o mundo mude, e se aperceba que qualquer um dos lados que nos trouxe aqui são de acto o mesmo lado e que já não querem nenhum dos dois.
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