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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

No Blog às quartas...

  Como referido aqui vou iniciar um périplo de entrevistas que nos vai dar uma visão da sociedade em que vivemos dos mais diversos quadrantes da sociedade. A primeira personalidade entrevistada é a Alexandra,é Formadora de profissão.
 
C-R-  Estas últimas semanas trouxeram aumentos de impostos. Concordas com este caminho?

A - Não, não posso concordar. E não é só uma opinião saída do nada, vários são os especialistas internacionais que já vieram a público alertar para o erro que esta decisão significa.
Os custos sociais destas medidas serão tão elevados que jamais poderão ser compensados pelos supostos ganhos. Além disso, os cortes vão representar uma contracção efectiva na economia. Uma população sem poder de compra não faz mover o mercado.

C-R - No principio deste ano houve revoluções no mundo árabe. Achas que podem vir a acontecer nos mesmos moldes na Europa?
A - Acho que vamos assistir a muitas revoluções que, aliás, já estão em curso, refira-se o caso da Grécia e da Inglaterra. Acredito que o cariz será diferente das revoluções árabes devido a diferenças culturais e às próprias condicionantes de cada local.

C-R - Do teu ponto de vista qual será a evolução social nos próximos tempos? Há espaço para revoltas sociais??
A- Penso que sim. A partir do momento em que o povo se começa a aperceber de que foi enganado de forma descarada pelo primeiro ministro e sofre na pele os efeitos do acordo assinado com a troika e também os resultados positivos da luta espanhola – isto só para citar o exemplo que nos está geograficamente mais próximo, creio que estaremos perante o contexto propício às revoltas populares.
Pedro Passos Coelho fez toda uma campanha eleitoral sem nunca referir, propositadamente, o corte de 50% no subsídio de Natal. A questão é que se o fizesse com transparência nunca seria vencedor. Depois há que contar com o que significa para o povo o aumento brutal dos impostos no gás e na electricidade, a subida em flecha dos transportes e mais o que vai pesar nos orçamentos das famílias o aumento do IVA para 23%. Nada disto foi falado. Claro que foi igualmente intencional tomar todas estas decisões durante o período de férias, em que as pessoas estão mais desatentas.
 
C-R - Qual a tua opinião sobre os recentes acontecimentos em Inglaterra?
A - São consequências das medidas radicais tomadas pelo governo Cameron. Havia que solucionar o desemprego que grassa na população em questão. Em vez disso, o primeiro ministro britânico retira apoios sociais sem resolver o desemprego e ainda fecha os únicos locais, os youth centres (centros de juventude) que mantinham os jovens fora das ruas. Discordo da violência, dos ataques aos cidadãos, das pilhagens, mas consigo ver onde está a raiz do problema. Infelizmente e face à atitude do governo creio que não será fácil acabar com essa onda de violência.

C-R - Relativamente ao estado da educação, consegues dar um panorama geral?
A - Sinceramente, acho que, neste momento, apenas se pode prever uma hecatombe. Todas as medidas apontam para a privatização do ensino em Portugal. Os alunos são incentivados a transitar do ensino público para o privado, fecham as escolas públicas, os professores são dispensados, as propinas estão já a impedir muitos alunos de prosseguir os estudos a nível superior, etc. Todas estas medidas juntamente com o anunciado maior despedimento de sempre de professores já decidido por Nuno Crato, só acrescenta à já precária situação dos professores em Portugal, especialmente os contratados.
Isto leva sempre a uma velha questão – um povo ignorante é mais facilmente manipulável e desconhece mais os seus direitos. É uma teoria muito velha nas que certos sectores parecem gostar de perpetuar de forma triste.

C-R -Qual a tua opinião sobre o novo ministro da educação?
A - Nuno Crato é um homem de números que se formou no ensino privado, fez formação nos EUA. Os modelos de educação americanos são totalmente diferentes. Nuno Crato estudou a pagar. Pensa em números. Como tal é-lhe difícil pensar no factor humano. E o ensino faz-se sobretudo disso. Para mim, é uma escolha muito discutível e, sobretudo, uma escolha que se revela perigosa para a continuação do respeito pelo artigo da constituição que nos garante um ensino tendencialmente gratuito.

C-R - Achas possível e /ou desejável uma maior cumplicidade entre professores e alunos para um ensino melhor?
A- Acho cada vez mais possível. Os alunos querem ter professores e o ministério despede-os. Os professores deviam trabalhar e não podem. Ambos querem qualidade no ensino e a qualidade é posta em causa com o aumento de alunos por turma, menos professores e menos escolas.

C-R - No teu entender qual a actual situação dos partidos da esquerda parlamentar?
A - A Esquerda Parlamentar não tem sabido ser oposição e com isso abriu caminho para a actual situação de ditadura dos mercados, com um ultra-liberalismo de direita que põe em causa até a constituição. Mas o facto de receberem dinheiro do pós-eleições em conjunto com divisões internas no caso do BE, levam a esse falhanço. Enquanto a direita se une em torno dos interesses do capital, a esquerda divide-se em querelas ideológicas muitas vezes roçando o secundário perante as situações concretas e a gravidade das circunstâncias em vez de capitalizar o que a une e formar uma plataforma de entendimento à esquerda que seja credível e mereça a confiança dos votantes.
Fica o desafio à esquerda parlamentar.

C-R - O que achas do papel dos sindicatos no movimento actual?

A- Os sindicatos andam estranhamente inactivos. Reclamam um pouco mas acabam por assinar acordos sem contestação de maior. E acabam por, desse modo, não defender os direitos dos trabalhadores que representam. A actividade sindical desilude-me cada vez mais. Talvez se não estivessem afectos a partidos da mesma forma, partidos esses que também não têm sabido ser oposição e que estão dependentes dos orçamentos pós-eleições, as acções seriam diferentes, mais interventivas e mais vencedoras.
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C-R - Para terminar , qual a tua esperança para os próximos tempos e a manifestação internacional de 15 de Outubro?
A - Espero sinceramente que o povo adira em massa e defenda os seus direitos. É fundamental que o povo se expresse e de forma clara e inequívoca. Creio que há boas possibilidades. Esperemos que o povo mostre o que sente com firmeza. O poder político tem que estar consciente de que não há lugar para atitudes ditatoriais impostas contando com a conformismo que, felizmente, está a desaparecer para dar lugar à afirmação da pessoa humana e não do mercado de capitais e seus desmandos de ganância.

C-R - Todas as quartas-feiras trarei um(a) convidado(a) de uma área profissional diferente para uma visão actual sobre a sociedade que nos rodeia, resta-me agradecer à Alexandra pelo tempo disponibilizado.

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